sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Resta o afeto (Lucas Lima)

Ele pega o alimento que recebeu e o divide em partes iguais com seu amigo, seu melhor amigo, aquele que não o julga, não o condena, apenas o segue. O que rodeia os dois é o mais puro sentimento de amor e admiração, um amor sem segundas intenções, enfim, o mais belo sentimento que existe.


Ambos vivem em um lugar muito simples, sem o mínimo de sofisticação ou status, enfim, uma vida muito modesta. Seu lar não tem banheiro, cozinha ou sala, seu lar é a rua.

Estão à margem da sociedade, parecendo, para alguns, serem condenados a viver daquela forma miserável. Provavelmente sonhem com uma vida mais confortável, sem tanto sofrimento e humilhação. Alguns passantes se solidarizam com eles, outros os abominam. Não se sabe o motivo de estarem naquela situação, mas, com certeza, não é por sua própria vontade, pois problemas acontecem com todos; o que os diferencia é a profundidade dos problemas e a forma com que cada pessoa lida com eles.

Por incrível que pareça, se vê muita felicidade no olhar daqueles dois amigos. Eles sabem que dificilmente abandonarão aquele local e que, no fundo, só lhes resta aproveitar aquela bela história de amizade, como se não houvesse amanhã.

Com o entardecer, procuram um local mais protegido para passar a noite e, juntos, seguem o mendigo, arrastando seu cobertor, junto a seu cão em sua jornada em busca de abrigo.

Um comentário:

  1. O tema da amizade é traiçoeiro. Se não for bem explorado, pode ficar piegas, e foi isso que NÃO aconteceu no texto de Lucas Lima. Há uma surpresa no desfecho que lembra o pensamento indiretamente manifesto de Machado de Assis: somente nos animais o homem é capaz de encontrar um amigo verdadeiro.

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