sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Sem título (Thayan Acevedo de Rodrigues)

Perder algo não é fácil, perder algo de que a gente gosta é horrível, perder uma pessoa é uma dor sem igual, mas perder alguém de quem gostamos... ah, que sensação indescritível.


Lembro-me como se fosse ontem, os debates com os primos de como seria quando nossa avó viesse a falecer. No tempo de adolescentes, imaginávamos o quão difícil seria viver sem ela, sem seu abraço e suas palavras confortantes. Algo que para mim era extremamente inaceitável, inimaginável, aconteceu.

Em meados de 2011, devido a uma grave pneumonia e um maligno e instantâneo tumor no pulmão, ela se foi. Rapidamente, sem sofrimento, ela se foi. Nosso chão se abriu, nós caímos sem ter um fundo no qual aterrissar, sem um paraquedas de conforto, apenas a angústia e a desesperança de levar uma vida sem ter a pessoa que nos ensinou os maiores valores da vida: o amor e a convivência em família.

Minha avó era um grande exemplo de superação, em quase todos os quesitos. Pobre desde pequena, ela nasceu no Paraguai e veio ainda criança para o Brasil. Aprendeu a falar português com muita dificuldade, ou seja, sua adaptação foi demorada. Estudou, cresceu, se casou cedo, teve 5 filhos (3 mulheres e 2 homens falecidos) e se tornou catequista. Como catequista, colecionou alunos e amigos, era adorada por todos, não apenas por esbanjar simpatia, mas também por ter palavras sabias nos momentos certos. Era uma idosa encantadora, fazia de tudo para agradar a quem fosse e não media esforços. Ela me ensinou a, desde pequeno, fazer o bem sem olhar a quem. Devido a ela, minha família se tornou a base de tudo, e aprendemos que apenas juntos conseguiríamos ser felizes.

Então, veio o câncer de mama e a primeira batalha começou. Não apenas dela, mas de toda a família. O cabelo caiu, a expressão ficou pálida e a vontade de fazer suas atividades preferidas (pintar, costurar, cozinhar) foi diminuindo. Depois de 4 anos e vários tratamentos, o câncer se foi, mas antes que a felicidade fosse retomada, veio o câncer dos ossos. Mais tratamentos, mais remédios e a esperança de ter minha avó por perto se tornava menor, enquanto a vontade de tê-la por perto aumentava. Os anos se passaram, sua força diminuiu e nada mais lhe fazia sorrir. A cada dia que passava, pouco tempo restava.

Então retornaram a pneumonia e o tumor no pulmão. A guerreira se foi, perdeu a guerra com muita determinação, lutou até onde conseguiu, não por ela, pela família que ela tanto prezava. A vida continuou, aos poucos retornamos ao ritmo normal, aos poucos voltamos a viver a rotina, e a dor momentânea se tornou motivação, motivação para realizar todos os planos que um dia contei para ela, todas as conquistas que um dia declamei que alcançaria, a esperança de fazer tudo certo, tudo como deveria ser se ela estivesse aqui presente.

Para muitas pessoas, é difícil falar de algo desse gênero; eu sinto prazer, pois eu sinto que o “eu te amo” de que ela precisava, eu dei. Que o abraço deque ela precisava, também dei, do mesmo jeito que ela me deu, que ela me protegeu quando mais precisei.

Foram 19 anos de convivência, uma vida dentro de uma vida; não existe como tirá-ça da cabeça. De vez em quando, dou risadas de suas histórias, costumo chorar sentido sua falta de vez em sempre e penso em como seria contar o que fiz ontem para ela.

Atualmente, a única coisa me deixa triste (além da saudade) é imaginar que ela não vai estar presente (de corpo) quando eu me formar, quando eu me casar, quando tiver filhos, mas, independentemente de tudo, tenho em mente que foi tudo dedicado a ela, todas as lutas, todas as batalhas, que não chegam nem perto de tudo o que ela fez para ficar perto de nós.

Foi, é e sempre será meu exemplo de vida, que vou repassar para meus filhos, que espero que repassem para os netos e que nunca deixem se perder essa essência de saber que um dia existiu uma pessoa que não praticava maldade, que não tinha rancor e pensava sempre em fazer o bem. E nunca esquecer que, ainda, a família é a base de tudo.

Se o céu realmente existe, eu tenho muita inveja de lá neste momento.

Um comentário:

  1. Thayan "ataca" sem dó a saudade. Enfrenta-a abertamente e sem medo. Afinal, ela nos faz mais humanos, não é mesmo?

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