sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Carro azul (Jéssica Beatriz Barcelos Hoeller)

Um silêncio agonizante e perturbador, apenas eu e você no seu pequeno carro azul em uma esquina qualquer de uma rua escura; ainda posso lembrar-me da bebida com gosto de suco de maracujá e do seu perfume inconfundível. Lembro-me do seu olhar assustado, da sua respiração ofegante; naquele momento, senti que ambos queríamos relembrar o gosto dos nossos beijos, como quando nos conhecemos: um beijo despretensioso e terno, mas que havia mudado com o passar do tempo, assim como nós.


Nossa bebida havia acabado, assim como a conversa que havíamos começado; poderíamos ter terminado nossa noite ali, mas não estávamos prontas para dizer adeus. Eu sentia que tudo o que precisava era sumir por algumas horas, olhar para o seu rosto e tê-la nos meus braços por, pelo menos, mais uma vez. Quando dei por mim, estávamos na estrada, a caminho da praia. Eu admirava o seu sorriso enquanto dirigia e fazia planos para o futuro, mesmo sabendo que provavelmente não aconteceriam. Nós cantávamos as musicas do seu antigo CD, bebíamos e, mesmo com o mundo contra nós, me senti feliz como há muito tempo não me sentia.

Estacionamos o carro na frente do mar; garoava e fazia muito frio, mas nada disso importava, pois éramos apenas eu e você, assim como eu tinha imaginado e desejado por tanto tempo. Seu cabelo bagunçado, um sorriso sincero e um brilho no olhar. Enfim, o beijo que eu esperava ansiosamente desde que tínhamos nos encontrado mais cedo naquela noite. Era como eu lembrava, eu arrisco dizer que até melhor: um beijo doce, carinhoso, acompanhado de um turbilhão de emoções. Lembro-me de que pensei que eu poderia morrer ali mesmo, em uma praia quase deserta, numa noite fria e úmida, que eu estaria realizada.

Passamos horas e horas admirando o mar, conversando sobre os mais diversos assuntos. Quando volto àquela noite, recordo nossos corpos juntos, o calor dos seus braços e de como eu me sentia segura cada vez que me envolvia neles. Irei guardar essa sensação para sempre na memória e no coração, pois sei que dificilmente irei senti-la novamente.

Cochilamos por algumas horas no seu pequeno carro azul, a realidade nos chamava infelizmente. Por mais que tentássemos resistir, sabíamos que aquela hora chegaria,:você teria que voltar para sua rotina, e eu, para os braços de outra pessoa. Quando me dei conta, estávamos na estrada, voltando para a cidade; eu não conseguia parar de olhar pra você nem por um instante, pois algo me dizia que seria a última vez que nos veríamos. E ,por fim, um último beijo que, por algum motivo, já não era o mesmo.

Um comentário:

  1. Uma realidade paralela, é isso que "Carro azul" traz para seus leitores. Uma situação amplamente verossímil mas, ao mesmo tempo, recheada de sentimentos e sensações que a tornam quase nossa, mesmo que não a tenhamos experimentado. Muito bacana!

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