sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Minha primeira crônica (Fernando Zibarth de Morais)

Bar de esquina, 18h15 de uma quarta feira qualquer, eu estou sentado tomando uma gelada quando um homem com seus possíveis 60 anos chega. Já era conhecido do dono, e se cumprimentam dizendo:


- Ô, seu Orlindo, sempre pontual.

- Ô, Cleir, vê pra mim os dois dedinhos de sempre.

Enquanto é servido, seu Orlindo tira do bolso direito da calça um maço de Marlboro, pega um cigarro, a bebida e vai para o lado de fora; acende seu cigarro com fósforo e fica ali, parado, fumando e tomando o seu martelinho. Após três cigarros, finalmente acabam os dois dedinhos; ele volta, pega outro e segue na mesma rotina: cigarros e bebida, e eu já estou na terceira cerveja. O sujeito me olha e diz:

- Esse meu Paraná não tem jeito...

- É, tá difícil mesmo a situação, né ?

- Difícil? Difícil é “cortá” cana, o Parana é um caso perdido.

- É fase, logo vocês superam...

- Eu sou paranista desde o tempo do Ferroviário; naquele tempo, eu levava o meu cigarro e um rádio para o jogo...

Seu Orlindo para, esquece tudo o que dizia e sai; volta para a bancada do bar, pede mais uma rodada e vai para o lado de fora sem falar nada, olhando fixamente para uma direção. Fuma seus cigarros, toma seu “drink”, então retoma a conversa:

- Eu adoro esse boteco!

- Eu também gosto, acho ele coisa de macho. O senhor vem desde quando?

- Hahaha... Olha, meu amigo, eu conheço o Cleir há mais de 30 anos, desde que ele tinha o bar lá pra frente da Mate Leão. Agora que ele comprou esse daqui, eu tenho que vir de ônibus.

- Ah, mas então o Senhor gosta mesmo do bar?

Estou até agora esperando a resposta. Seu Orlindo repete o feito: para, esquece tudo o que dizia e sai, volta para a bancada do bar, pede mais uma e vai para o lado de fora sem falar nada, olhando fixamente para uma direção. Volta a fumar seus cigarros, tomar seu “drink”, então retoma a conversa:

- Sabe que eu bati o carro alguns anos atrás, perdi metade do fêmur, que é esse osso aqui do lado da perna. De vez em quando me dá uma dor, sabe? Acho que é a prótese.

- Às vezes a temperatura muda, daí da uma dorzinha..., né?

- Dorzinha? Poxa, é uma dor desgraçada.

- Mas o senhor veio de ônibus, vai voltar como, hoje?

- Agora já é tarde, vou de táxi.

- Onde o senhor mora?

- Lá no Bigorrilho.

Então, pensei: ir de taxi do Cabral para o Bigorrilho, uns R$20,00 no mínimo; olhei para o seu Orlindo, fiquei com pena. Já que eu estava indo para o Batel, um pequeno desvio para deixar o pobre homem em casa não me custaria nada.

- Ô, seu Orlindo, se o senhor quiser, posso te dar uma carona.

- Eu ficaria agradecido, de coração.

- Vou sair daqui uns 20 minutinhos.

- Vou tomar mais uma, então.

Como já era esperado, o homem pegou outra bebida, fumou seus cigarros e disse:

- Às ordens.

Virei o pouco de cerveja que restava em meu copo e levantei; entramos no carro e tivemos pequenas conversas rápidas durante o percurso. Dez minutos depois, chegamos à sua residência, uma casa grande, com um belo jardim, um chafariz e um carro importado na garagem. Seu Orlindo sai do carro sem dizer nada, dá a volta e para do meu lado da janela, já com um cigarro aceso.

- Obrigado pela carona, jovem.

- “Qué” isso, o senhor é gente boa.

- Toma meu cartão. Eu não trabalho mais, mas ainda tenho sócios; o que você precisar, pode me ligar que eu te ajudo.

Peguei o cartão e fiquei espantado: aquele velho maltrapilho fedendo a cachaça e que me dava pena me entrega um cartão com os dizeres: “Orlindo Stanquewicz & Associados: Advocacia Tributária”.

Sem título (Christianne Ribas)

Entre viagens, mudanças, novas amizades e amadurecimento, você sempre tenta manter o pensamento positivo apesar dos empecilhos que enfrenta ao longo do caminho, que é como uma guerra e a cada dia é preciso enfrentar uma batalha, às vezes com ganhos, outras com perdas. No meio de batalhas pessoais, nossos pensamentos positivos algumas vezes tendem a serem devastados por desilusões de todos os tipos e proporções.


Entre todas as desilusões possíveis a maioria das pessoas está fadada a ter três tipos. A desilusão amorosa é aquela de que o coração sai machucado, mas se você tiver paciência e não desistir, você mesmo se cura. Se encontrar um novo amor também; quando encontramos um novo amor, o coração se regenera de forma mais rápida.

Quando você se decepciona com algum familiar, algo que não se imagina que possa acontecer, a raiva toma conta de você, mas o tempo, a convivência e o carinho que você dedicou à pessoa, e vice-versa, são fatores que contribuem para que a decepção desapareça e o apego volte.

Agora, quando falamos em decepção por amizade, nem um novo amor, nem o tempo, o carinho que empregamos durante a relação nem uma nova amizade são capazes de fazer relevar o que aconteceu; sempre ficará uma feridinha que não cicatrizará. Palavras, gestos e atitudes que não se esquecerão. Aquela sensação de que pode acontecer de novo com qualquer nova amizade (isso se deixarmos espaço para novas amizades).

A decepção é maior quando as pessoas que você acredita serem confiáveis lhe viram as costas, ignoram e, sem provas, acusam. Você tenta fugir disso, mas sofre, e os poucos amigos que acreditaram em você, nesses sim, você sabe que pode confiar, pois não irão acusa-lo ou lhe dar as costas. Eles conhecem você de verdade, e sabem que você tem caráter e que jamais faria nada pra prejudicar alguém, com ou sem razão.

Eu não tenho muitos amigos, mas os que tenho, sei que vou levar sempre em meu coração e que sempre estarei no coração deles.

Um conto ligeiro (Camila Cristina Alves da Silva)

"A vida é um conto ligeiro"; caso tal frase fosse seguida ao pé da letra, toda a nossa vida seria contada em breves linhas, mas aqueles que a aproveitassem teriam livros e mais livros de estórias e a vida deixaria de ser apenas um conto. Vivo os meus vinte e um anos, mas me recordo de quando tinha apenas sete: uma menina que sonhava e não tinha medo do escuro e muito menos do “homem do saco”; acreditava na Mulher Maravilha, em piratas e não ligava para o Papai Noel ou para a fada dos dentes.


Com aquela idade, a sala de aula se tornava uma forma de as crianças demonstrarem suas personalidades e começarem a desafiar seus limites; comigo não foi diferente. Era apenas mais um dia, mais uma aula, mais algumas horas presa em um lugar cheio de pessoas sem poder fazer o que eu queria. Antes de a professora entrar em sala, os alunos estavam completamente descontrolados, alguns grupos falando alto de um lado e outros brincando de luta em outro. No momento em que a professora chegou a situação mudou; todo mundo sentou-se, mas ainda era possível escutar algumas conversas. Em uma das carteiras, uma menina estava jogando uma borracha para cima; a professora pediu que ela parasse com aquilo, pois desejava iniciar sua aula; a menina não obedeceu. A professora repetiu seu pedido, mas a menina manteve a brincadeira, até que a professora, com ar de autoridade, dissesse: "Se eu pedir pela terceira vez pra você parar de jogar sua borracha, te jogo pela janela". A menina, então, passou a encarar a professora e, com um simples movimento, jogou novamente a borracha para o alto e depois a pegou. Fez-se silêncio em todo o ambiente e, meio segundo depois, a sala inteira delirava com a perseguição de gato e rato que acontecia.

Como a professora tivesse pernas compridas por ser alta, conseguiu alcançar a menina e, para não passar por mentirosa, abriu a janela da sala de aula - que se encontrava no térreo – e, como prometido, a jogou pela janela (de uma forma delicada). A menina não precisou escutar o que deveria fazer em seguida: saiu correndo e foi direto para a sala da diretora, já preparada para escutar uma bronca, mas ela se surpreendeu: a diretora não brigou, mas, como punição, a menina passou a frequentar a psicóloga da escola para melhorar seu comportamento.

3:37 (Vinícius Nogueira de Lima)

Quando me dei conta, estava caminhando em uma longa estrada. Olhei para os lados e não vi nada: era um deserto árido e quente, havia alguns cactos e aquele sol, aquele sol estava me matando; nunca tinha sentido tanto calor.


Percebi que estava com uma mochila e a primeira coisa que fiz foi ver o que havia dentro: um celular que estava sem sinal algum, um caderno todo rasgado e sujo com algumas anotações que eu não entendi, uma bússola velha, um mapa e um cantil que logo peguei pensando que conteria bastante água, mas tinha somente algumas gotas.

Continuei a andar e ao, mesmo tempo, procurar água ou alguma coisa que pudesse matar a minha sede, mas todo o meu esforço foi em vão. Alguns minutos depois, comecei a ouvir um barulho, muito baixo, que gradativamente foi aumentando. Olhei pra trás e vi um ônibus vindo em minha direção. Quando se aproximou, não pensei duas vezes e pedi para que parasse; era um velho ônibus escolar igual àqueles que você só vê em filmes. A motorista, que era linda por sinal, perguntou se eu precisava de ajuda e eu disse que sim, queria sair de lá, beber muita água e tomar um banho bem gelado, não aguentava mais o calor.

Entrei no ônibus, que era de uma excursão, e lá dentro havia várias crianças que logo, ao me ver, ficaram rindo. Eu, sem entender, sentei no banco da frente e comecei a conversar com a motorista, que me olhava de um jeito diferente.

Passaram-se uns 20 minutos e avistei um posto de combustível se aproximando, e pedi para me deixar ali. Ao descer, as pessoas que estavam lá, ficavam me encarando do mesmo modo que as crianças olhavam, mas sem as risadas. Caminhei até a loja de conveniência, peguei uma garrafa de água e fui até o caixa; procurei a minha carteira e “cadê”? Procurei nos bolsos, na mochila e nada. Coloquei a água de volta na geladeira e caminhei até o banheiro; ao entrar, olhei para o espelho e me assustei: não era o meu rosto que estava lá, e sim um rosto de um cachorro! De repente, acordei assustado e percebi que foi tudo um sonho. Olhei para o relógio, eram três e trinta e sete. Voltei a dormir.

O equilíbrio (Wellaine de Lima)

O Equilíbrio


A emoção e razão, apesar de tão distintas, são farinha do mesmo saco, pois vêm do mesmo lugar.

A emoção é peculiar, pois, apesar de intangível, mexe com toda a nossa estrutura, nos entorpece com a droga mais delirante, a adrenalina. O engraçado é que a explicação para tudo é a razão que nos dá, porém, sua própria existência é “abstrata” enquanto diz que a emoção é uma substância química que nos arrebata.

Nós, humanos, somos ditos privilegiados, pois somos racionais; eu diria mais: por sermos emocionais.

Não privilegio nem uma, nem outra. Aliás a razão não precisa de defesa, ela se explica, e a emoção (ah!, a emoção) se justifica.

A emoção ri, a emoção chora, faz caras e bocas... a razão... hum? Ela não tem expressão.

A loucura é a razão de tanta emoção! Entendeu? É, acho que isso não tem explicação.

Na verdade elas são uma fusão, afinal precisamos de amor e de sonhar, como Dom Quixote, mas também de pensar e raciocinar como Sancho Pança.

O doce equilíbio da alma, entre a razão e a emoção, duas crianças a brincar em nosso coração.