quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Os dois segundos em câmera lenta (Fellipe Gaio da Silva)


Estava indo para casa, depois de uma partida de futebol entre amigos, e conversando com seu amigo. Lá pelas tantas, ele se intriga:

- Já reparou que a música está virando ar?

- Como assim?

- É. Antes o som saía de discos de vinil. Depois, da fita cassete e, em seguida, dos CDs. Agora, a música está virando ar, pois não sai de nada, mas toca. Simplesmente toca.

O amigo parou e pensou. Repensou. Até queria retrucar, mas era depois de um jogo de futebol. Não queria pensar muito, era capaz que doesse só de pensar. Então concordou, erguendo a sobrancelha esquerda.

Ele ficou satisfeito e caminhou com a cabeça levemente mais erguida. Até apertou um lábio contra o outro. Pôs as mãos nos bolsos, um sorriso preso quase se deixando ver, como quem acaba de ganhar numa discussão sobre o seu time.

Passaram então por uma rampa, dessas de estacionamento, defronte a uma casa. O amigo passou contornando-a, e ele passou por cima. No seu último passo sobre aquela rampa assassina, escorregou o pé esquerdo, enquanto o direito estava a caminho de mais uma passada. Tentou tirar as mãos dos bolsos o mais rápido possível, a fim de evitar a queda, mas não deu tempo. Caiu. Caiu com a cara no chão; e só de um lado.

Acho que o procedimento todo, desde o escorregão até a cena ridícula d’ele tentando tirar as mãos dos bolsos (que mais parecia um peixe se batendo fora d’água), deve ter levado, no máximo, uns 2 segundos, mas foi aquele tipo de tombo que mereceria versão em câmera lenta.

Quando levantou, se bateu para tirar a poeira da roupa, tirou a areia do rosto e, nesse momento, decidiu, disfarçadamente, olhar ao redor pra ver se alguém tinha flagrado o seu tombo. Girando o rosto no sentido horário pôde ver a loja de móveis, a farmácia, a lotérica, o mercado e o Terminal Rodoviário da cidade, nessa sequência. E de todas aquelas pessoas que estavam rindo, uma delas chamou a sua atenção. Era o seu amigo, sentado no meio-fio, quase deitando de tanto rir.

- Vamos embora! – Ele disse, quase gritando.

Rindo, o amigo levantou e começou a caminhar.

Uns 5 passos à frente do amigo, ele pensou: "- Da próxima vez, eu finjo uma convulsão... ou simulo um infarto... ou sei lá."

2 comentários:

  1. caraca, ilárioo, asuashaushaushaushau, tem cara de ser história real. mto bem redigido, parece q foi tirado de um livro.
    a gente ri apenas em ler, imagine de ver?

    boa sorte e grande abraço

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  2. Então, o mais interessante foi que, na sala, você mesmo teve a coragem de se confessar o personagem que cai, quando a história efetivamente ocorreu na vida real. Ser capaz de rir de si mesmo é privilégio de poucas personalidades. Abraço.

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