quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O primeiro velório (Rafael Delenski Giublin)


A semana que passou foi de luto para minha família. Dia 29 de Outubro, meu primo de segundo grau, João, morreu após ter sido atropelado algum tempo depois do fim do último Atletiba. Crime de trânsito ou violência no esporte, assassinato ou acidente, pouco importa. Depois que passamos pela perda, temos claro que nada trará o ente querido de volta.

Mas o que realmente não trará a pessoa de volta é o velório. Nunca tinha ido a tal evento, mas já tinha posicionamento totalmente contrário, considerando-o uma tortura para os familiares e pessoas realmente próximas do falecido e uma agressão até ao próprio defunto. Minha opinião se acentuou ainda mais conhecendo pessoalmente esse martírio.

Logo ao chegar, me deparo com um ex-colega e melhor amigo do João se esvaindo em lágrimas do lado de fora da funerária. Também do lado de fora, encontro a mãe da vítima, conformada, porém acabada. A ausência nela era clara. Entrando no hall vejo o pai do falecido, totalmente inconformado e em lágrimas, sem nenhuma condição de estar lá, recebendo os “pêsames” (seja lá o que essa palavra significa) dos conhecidos.

E o pior ainda estava por vir. Na próxima sala é onde está o caixão. Aberto, com meu primo, jovem de apenas 21 anos, inchado e deformado. Ao entrar ali, a primeira coisa que senti foi o grande vazio em seu corpo. Era como um boneco inanimado. Essa imagem nunca vai sair das minhas lembranças. Também me veio à cabeça aquele desenho de um menino morto em exposição na estação de trem de Paris, imagem do século XVIII ou XIX, não me recordo ao certo. Um verdadeiro show de horrores.

É comprovado que o luto é importante na perda de um ente querido, que sem ele não se supera a perda, mas o velório ultrapassa esse limite, e vai além da homenagem ao morto. Se existe vida após a morte, garanto que o velório não ajuda o espírito a encontrar a paz.

Sempre que converso com minha mãe sobre isso, ela cita o velório de sua avó, com a qual era muito apegada. Ainda viva, minha bisavó falava que queria que contassem piadas em seu velório e que todos rissem. E foi isso que minha mãe e suas primas fizeram, intercalando as piadas com o sofrimento, mas encarando a morte de uma maneira diferente. A melhor homenagem póstuma que se pode fazer é celebrar o que a pessoa viveu.

Um comentário:

  1. O Rafael foi mais um dos que optaram por partilhar um capítulo de suas próprias vidas em forma de crônica, e com um texto cheio de sentimento que não fica piegas em nenhum momento. Acho que ele já está notando que o caminho do jornalismo não foi escolha à toa. Parabéns.

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