quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Desejo (Fabíola Vaz)

O sujeito era cabeludo, barba por fazer, meio hippie, moreno claro, alto, magro, do tipo que ouve um som mais pesado que um botijão de gás. Calçava um tênis sujo, camiseta da banda Iron Maiden e um jeans batido. Encostado no balcão do único bar ainda aberto naquela madrugada de terça-feira, quase 4 horas da manhã, ele observava o movimento.

Acordo assustada com um sonho que tive, acendo o abajur, levanto, sinto o chão frio, calço os chinelos, dou alguns passos até a sala de estar, preciso de água com açúcar. Não! Preciso de uma dose de uísque. Verifico a estante e vejo que a garrafa está vazia. O desejo e a necessidade da bebida aumentam, entro no primeiro jeans que encontro, visto um moletom, pego as chaves do carro, desço as escadas lentamente e saio em busca dele, o uísque, aquele que me fará dormir e esquecer do sonho que tive.

Há um único bar aberto; entro e logo o vejo encostado no balcão. Pega o copo, leva-o à boca e bebe devagar; tira uns fios de cabelo que insistem em cair nos olhos, estes fixos, movimentos lentos, pensamento longe.

Sento próximo, a poucos metros dele, peço meu uísque, tomo lentamente enquanto o observo. Seu olhar se encontra com o meu. Ficamos assim, não consigo disfarçar; ele se levanta, com passos lentos vem ao meu encontro, me olha nos olhos, aproxima-se, respiração ofegante; fico imóvel, esperando a próxima ação daquele maluco, um maluco que me deixa sem reação, me puxa pela nuca, aproximando nossos lábios...

Ouço um sinal: meu celular mais uma vez desperta sem estar programado. Acordo ofegante, acendo o abajur, levanto-me, sinto o frio do chão, me visto, e saio em busca do uísque que me fará dormir e esquecer...

3 comentários:

  1. Nossa, parabéns, adorei o jeito que escreve, a forma que consegue prender a atenção e despertar a imaginação de quem está lendo em poucas linhas. Muito bom mesmooo ...

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  2. Parabéns! Conseguiu fazer com que uma situação aparentemente comum se tornasse surpreendente. Muito bom!

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  3. A forma de escrever da Fabíola demonstra uma queda pela imageria "noir" sem ser clichê. O sonho dentro do sonho que ela relata nesta crônica me fez viajar pelas ruas enevoadas da madrugada curitibana, de que tanto gosto. A menina é talento puro! =)

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