quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Apenas (Fabiana Vieira Cintra)

Fecho os meus olhos e peço apenas mais um dia. Um dia para pensar menos. Pensava muito. Pensava no mês que vem, no próximo ano, no próximo problema, na próxima solução. Pensava o que poderia ou estava para acontecer. Deveria ter pensado menos.

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A cegueira, que quase não notara no início, foi se instalando lentamente e tomou conta depois de algum tempo.
Como já me bastasse viver na escuridão, fazia-me companhia a mente alucinada por sempre pensar demais.

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Deveria ter lido menos. Ser um cego me fez querer saber demais. Querer saber sobre todas as coisas e conhecer todos os lugares. Havia sempre de existir uma nova idéia.
Deveria ter lido menos os livros e mais os olhos do meu filho.

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Já fora da minha cegueira e ainda de olhos fechados, peço mais um dia. Talvez apenas um momento de um dia. Um dia sem pensar, sem querer ensinar, sem querer aprender, um dia apenas para viver.

6 comentários:

  1. Ótima idéia, professor!

    E parabéns à Fabiana pelo texto! Muito bom!

    Vamos ver agora se o professor começa a receber mais textos... Mesmo sem tê-los pedido em sala. o/

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  2. E foi boa a idéia mesmo, não foi? Eu é que quero, sim, receber mais textos sem pedir!
    Abraços.

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  3. muitoo boa crônica e parabéns pela iniciativa!

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  4. Para que eu não fique em dívida com a Fabiana por não ter falado diretamente do texto dela, aqui vai.

    A reflexão que ela consegue apresentar em tão poucas linhas reflete um amadurecimento que só vem com o tempo mas, ao mesmo tempo, não quer dizer que seja privilégio dos mais velhos. O tempo, neste caso, é uma entidade indissociável do espaço e da cultura e, portanto, pode-se acelerar como se acelerou para ela em termos de amadurecimento emocional e intelectual. Parabéns! =)

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  5. ela fala da cegueira de uma forma que poucos a percebem, pois muitos de nós somos cegos, e apenas não notamos.

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