Bar de esquina, 18h15 de uma quarta feira qualquer, eu estou sentado tomando uma gelada quando um homem com seus possíveis 60 anos chega. Já era conhecido do dono, e se cumprimentam dizendo:
- Ô, seu Orlindo, sempre pontual.
- Ô, Cleir, vê pra mim os dois dedinhos de sempre.
Enquanto é servido, seu Orlindo tira do bolso direito da calça um maço de Marlboro, pega um cigarro, a bebida e vai para o lado de fora; acende seu cigarro com fósforo e fica ali, parado, fumando e tomando o seu martelinho. Após três cigarros, finalmente acabam os dois dedinhos; ele volta, pega outro e segue na mesma rotina: cigarros e bebida, e eu já estou na terceira cerveja. O sujeito me olha e diz:
- Esse meu Paraná não tem jeito...
- É, tá difícil mesmo a situação, né ?
- Difícil? Difícil é “cortá” cana, o Parana é um caso perdido.
- É fase, logo vocês superam...
- Eu sou paranista desde o tempo do Ferroviário; naquele tempo, eu levava o meu cigarro e um rádio para o jogo...
Seu Orlindo para, esquece tudo o que dizia e sai; volta para a bancada do bar, pede mais uma rodada e vai para o lado de fora sem falar nada, olhando fixamente para uma direção. Fuma seus cigarros, toma seu “drink”, então retoma a conversa:
- Eu adoro esse boteco!
- Eu também gosto, acho ele coisa de macho. O senhor vem desde quando?
- Hahaha... Olha, meu amigo, eu conheço o Cleir há mais de 30 anos, desde que ele tinha o bar lá pra frente da Mate Leão. Agora que ele comprou esse daqui, eu tenho que vir de ônibus.
- Ah, mas então o Senhor gosta mesmo do bar?
Estou até agora esperando a resposta. Seu Orlindo repete o feito: para, esquece tudo o que dizia e sai, volta para a bancada do bar, pede mais uma e vai para o lado de fora sem falar nada, olhando fixamente para uma direção. Volta a fumar seus cigarros, tomar seu “drink”, então retoma a conversa:
- Sabe que eu bati o carro alguns anos atrás, perdi metade do fêmur, que é esse osso aqui do lado da perna. De vez em quando me dá uma dor, sabe? Acho que é a prótese.
- Às vezes a temperatura muda, daí da uma dorzinha..., né?
- Dorzinha? Poxa, é uma dor desgraçada.
- Mas o senhor veio de ônibus, vai voltar como, hoje?
- Agora já é tarde, vou de táxi.
- Onde o senhor mora?
- Lá no Bigorrilho.
Então, pensei: ir de taxi do Cabral para o Bigorrilho, uns R$20,00 no mínimo; olhei para o seu Orlindo, fiquei com pena. Já que eu estava indo para o Batel, um pequeno desvio para deixar o pobre homem em casa não me custaria nada.
- Ô, seu Orlindo, se o senhor quiser, posso te dar uma carona.
- Eu ficaria agradecido, de coração.
- Vou sair daqui uns 20 minutinhos.
- Vou tomar mais uma, então.
Como já era esperado, o homem pegou outra bebida, fumou seus cigarros e disse:
- Às ordens.
Virei o pouco de cerveja que restava em meu copo e levantei; entramos no carro e tivemos pequenas conversas rápidas durante o percurso. Dez minutos depois, chegamos à sua residência, uma casa grande, com um belo jardim, um chafariz e um carro importado na garagem. Seu Orlindo sai do carro sem dizer nada, dá a volta e para do meu lado da janela, já com um cigarro aceso.
- Obrigado pela carona, jovem.
- “Qué” isso, o senhor é gente boa.
- Toma meu cartão. Eu não trabalho mais, mas ainda tenho sócios; o que você precisar, pode me ligar que eu te ajudo.
Peguei o cartão e fiquei espantado: aquele velho maltrapilho fedendo a cachaça e que me dava pena me entrega um cartão com os dizeres: “Orlindo Stanquewicz & Associados: Advocacia Tributária”.
Sobre semeadores ultrapassados...
Há 12 anos
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